Com o dia das crianças chegando decidi parar para admirar minha vida, meu passado, minha infância. Ai que saudade que dá daquele cheirinho de lápis de cor novinho, o cheirinho da madeira escapando pra fora da caixa logo no início do ano. Melhor que o cheirinho do lápis, era o cheiro do giz de cera e da massinha de modelar.
Bom mesmo era correr no meio da rua, se sujar ao fazer bolinho de lama da areia do vizinho, me cortar ao tentar abrir o detergente pra fazer bolhinhas de sabão. Como era bom receber a ligação do meu pai na sexta feira, dizendo que estava voltando pra passar o final de semana em casa e pedir de quebra uma outra Barbie. Era magnífico brincar de boneca, de escolinha. Fingir ser secretária, médica, universitária. Escolher o nome dos filhos quando ganhava uma boneca nova. Era tão bom o pique pega, o pique esconde, jogar Bete ou o dono da rua. Brincar de bandeirinha então? E jogar queimada? Brincadeira de criança. Como eu adorava catar joaninha na arvore da escola, e inocentemente arrancar as asas da coitada, na esperança de que ela não fugisse pra longe de mim. Já tentei salvar um passarinho que caiu da arvore, uma borboleta com asa quebrada e um cachorrinho de rua. Fugia de casa tão frequentemente que minha mãe já estava cansada de se desesperar, acho que desde pequena fui dona da minha própria liberdade. Me apaixonava como quem trocava de roupa, e tive um amor platônico irremediável por meu melhor amigo na sexta série. Jogava peteca, adedonha, dançava o É o tchan até ficar cansada. Meu sonho era ser cantora ou atriz da Globo. O cachorro que mais amei de todos foi o Tiziu e chorei muito quando ele fugiu e foi atropelado. Eu também tive um papagaio que tinha ciúmes de todas as minhas amigas, e que por sinal espirrava quando eu espirrava. Chegava da escola e ia assistir “Um maluco no pedaço”, “Três é demais” e a “Ursupadora”. Ficava copiando as traquinagens de Tom e Jerry e Pica Pau, quando não me inspirava no Pica pau. Assisti os filmes de contos de fada tantas vezes que foi difícil acreditar que meu príncipe encantado nunca chegaria. Acreditei no Papai Noel e enviei cartinhas no natal. Adorava as festinhas de final de ano na escola e a troca de presentes do amigo secreto. Na época de Hantaro fiz meu pai comprar uma Hamster pra mim como presente de fim de ano, e dei a ela o nome de Aurora, porque ela dormia demais e era a minha Bela Adormecida. Dei um pirulito pra um menino da minha rua, como prova do meu amor, eu tinha 12 anos mas até hoje ele me atormenta com isso. Tive um Ursinho Pooh, uma Barbie que engravidava, e a sandália da Sheila Melo que vinha com Tererê. Dancei Xibom bom bom. Apanhei por ficar até tarde na rua, por desobedecer minha mãe e por sentar na cabeça da minha prima uma vez. Adorava lamber a bacia do bolo e ir pra casa da minha tia aos domingos, brincar com meus primos de guerra de balão d’agua (a gente mais brigava que brincava, mas era muito bom). Passava as férias na casa da minha professora, ou então na casa da Tia Zê, e estou nesse momento sentindo o gostinho do bolo de chocolate que ela fazia. Cantei “Como é grande o meu amor por voce” no dia das mães, na escola.Me perdi uma vez num clube por que fiz amizade com uma menina e fiquei conversando com ela horas e horas enquanto o povo enlouquecia atrás de mim. Como eram bom os passeios da escola que envolviam água, eu voltava pra casa parecendo um camarão. A primeira vez que fui ao cinema foi pra assistir Tainá na Amazônia. E Harry Potter me salvou, e ainda salva, de dias tristes e tediosos.
Seria ótimo que eu pudesse descrever cada momento, e transmitir toda a saudade. Como é bom lembrar da época mais feliz da minha vida, e saber que eu vivi, sobrevivi, e hoje sou quem sou.
Feliz dia das Crianças!
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