9 de outubro de 2011

Como foi bom ser criança...


Com o dia das crianças chegando decidi parar para admirar minha vida, meu passado, minha infância. Ai que saudade que dá daquele cheirinho de lápis de cor novinho, o cheirinho da madeira escapando pra fora da caixa logo no início do ano. Melhor que o cheirinho do lápis, era o cheiro do giz de cera e da massinha de modelar.
Bom mesmo era correr no meio da rua, se sujar ao fazer bolinho de lama da areia do vizinho, me cortar ao tentar abrir o detergente pra fazer bolhinhas de sabão. Como era bom receber a ligação do meu pai na sexta feira, dizendo que estava voltando pra passar o final de semana em casa e pedir de quebra uma outra Barbie. Era magnífico brincar de boneca, de escolinha. Fingir ser secretária, médica, universitária. Escolher o nome dos filhos quando ganhava uma boneca nova. Era tão bom o pique pega, o pique esconde, jogar Bete ou o dono da rua. Brincar de bandeirinha então? E jogar queimada? Brincadeira de criança. Como eu adorava catar joaninha na arvore da escola, e inocentemente arrancar as asas da coitada, na esperança de que ela não fugisse pra longe de mim. Já tentei salvar um passarinho que caiu da arvore, uma borboleta com asa quebrada e um cachorrinho de rua. Fugia de casa tão frequentemente que minha mãe já estava cansada de se desesperar, acho que desde pequena fui dona da minha própria liberdade. Me apaixonava como quem trocava de roupa, e tive um amor platônico irremediável por meu melhor amigo na sexta série. Jogava peteca, adedonha, dançava o É o tchan até ficar cansada. Meu sonho era ser cantora ou atriz da Globo. O  cachorro que mais amei de todos foi o Tiziu e  chorei muito quando ele fugiu e foi atropelado. Eu também tive um papagaio que tinha ciúmes de todas as minhas amigas, e que por sinal espirrava quando eu espirrava. Chegava da escola e ia assistir “Um maluco no pedaço”, “Três é demais” e a “Ursupadora”. Ficava copiando as traquinagens de Tom e Jerry e Pica Pau, quando não me inspirava no Pica pau. Assisti os filmes de contos de fada tantas vezes que foi difícil acreditar que meu príncipe encantado nunca chegaria. Acreditei no Papai Noel e enviei cartinhas no natal. Adorava as festinhas de final de ano na escola e a troca de presentes do amigo secreto. Na época de Hantaro fiz meu pai comprar uma Hamster pra mim como presente de fim de ano, e dei a ela o nome de Aurora, porque ela dormia demais e era a minha Bela Adormecida. Dei um pirulito pra um menino da minha rua, como prova do meu amor, eu tinha 12 anos mas até hoje ele me atormenta com isso. Tive um Ursinho Pooh, uma Barbie que engravidava, e a sandália da Sheila Melo que vinha com Tererê. Dancei Xibom bom bom. Apanhei por ficar até tarde na rua, por desobedecer minha mãe e por sentar na cabeça da minha prima uma vez. Adorava lamber a bacia do bolo e ir pra casa da minha tia aos domingos, brincar com meus primos de guerra de balão d’agua (a gente mais brigava que brincava, mas era muito bom). Passava as férias na casa da minha professora, ou então na casa da Tia Zê, e estou nesse momento sentindo o gostinho do bolo de chocolate que ela fazia. Cantei “Como é grande o meu amor por voce” no dia das mães, na escola.Me perdi uma vez num clube por que fiz amizade com uma menina e fiquei conversando com ela horas e horas enquanto o povo enlouquecia atrás de mim. Como eram bom os passeios da escola que envolviam água, eu voltava pra casa parecendo um camarão. A primeira vez que fui ao cinema foi pra assistir Tainá na Amazônia. E Harry Potter me salvou, e ainda salva, de dias tristes e tediosos.
Seria ótimo que eu pudesse descrever cada momento, e transmitir toda a saudade. Como é bom lembrar da época mais feliz da minha vida, e saber que eu vivi, sobrevivi, e hoje sou quem sou.

Feliz dia das Crianças!

4 de outubro de 2011

Era uma vez uma pessoa...


Um belo dia, numa terra muito distante, uma menina encontrou um amigo, o local do encontro não se pode revelar, visto que reconheceriam logo a história. O amigo perdido, e encontrado, não sabia ao certo o que pensar sobre a menina, ela parecia ser de outro mundo para ser encontrada ali, naquele ambiente.

Após aquele encontro, os dois passaram muito tempo juntos, mas só se correspondiam por cartas, bilhetes e mensagens, e desse modo era difícil que tivessem verdadeira noção de quem era quem. Em meio a tantas correspondências, a menina se tornou dependente do amigo, e ele era para ela um tesouro de valor imensurável, um alguém de quem se falava o tempo todo, aquela pessoa que se torna o céu e a terra para alguém. Os dois pareciam ter muita intimidade, mas para a menina ele era o melhor, o único capaz de entender suas diversas fases e faces. Ele era para ela a melhor pessoa existente, mesmo que com um quê de solidão e tristeza enraizadas no fundo do coração, aquele tom de desesperança e de desolação, de desanimo e ainda assim, vontade de conquistar e de vencer. Ela tentava de todas as formas, através de suas cartas, animá-lo, dizia que ele era capaz de tudo, se quisesse, e que deveria traçar metas para alcançar esse futuro tão desejado. O rapaz era capaz de verdade, ele trabalhava com algo bastante influente na época, uma daquelas coisas que a atualidade exige, mas poucos sabem fazer com excelência, por isso ele era magnífico na tarefa que desempenhava. 

A relação dos dois, a cada dia que passava se tornava mais próxima. A menina reconhecia os defeitos que ele tinha, mas mesmo assim não pôde evitar gostar sempre mais dele. Ele era mais velho, já havia passado por diversas experiências de vida, inclusive casamento e paternidade. Ela se envolvia sempre mais na vida dele, julgando ser capaz de compreender cada esquisitice do rapaz. E se julgava tão próxima, que só queria ele pra si, era egoísta e não aceitava que ele dividisse a atenção com mais ninguém.

Foi quando a situação começou a mudar, pois o rapaz, mesmo gostando muito da amiga, ela só era sua amiga e a relação dos dois não passaria disso nunca, mesmo que ela pensasse o contrário. Foi aí que outra moça entrou na história. Depois de ter sido mencionada diversas vezes nas cartas que eles trocavam, ele havia ficado curioso por saber quem era essa tão misteriosa Mirella, e assim passou a corresponder-se com ela também. Mirella, como era o nome da nova moça, era amiga da primeira, o que só complicou a situação. A menina, mesmo sendo uma pessoa meiga, calma e compreensiva revoltou-se contra a relação dos dois, e enciumada, acabou por afastar os dois de si própria. Ao perceber que os dois se enamoravam sempre mais, o desprezo pela relação dos amigos aumentava e ela pouco suportava a presença ou as correspondências de ambos.

Decidiu então seguir em frente, abriu seus olhos e logo se apaixonou pelo rapaz que entregava leite em sua casa, com quem vive até hoje, casou-se e teve filhos.

Ela sentia-se mal por ter se afastado de Mirella e do amigo, sentia saudades de ambos e sempre ansiava por saber noticias de como eles estavam, se ainda estavam juntos e tudo o que mais tivesse relacionado aos dois. Enviou então uma carta para o rapaz, desculpando-se por sua indulgência e capricho ao julgar que ele era sua, e somente sua propriedade. Mas sua carta foi respondida com um mero bilhete, por sinal muito curto e frio, o que a deixou ainda mais triste. Então a menina decidiu caprichar ainda mais, escreveu outra carta, pediu desculpas como se tivesse cometido o maior erro do mundo, e expressou-se de diversas maneiras para demonstrar como lamentava a separação, disse o quanto sentia falta daquele que foi, por tanto tempo seu porto seguro e único amigo. A essa carta, ainda mais caprichada, ele nem se deu o trabalho de responder. Mirella, a amiga com quem ele se envolvera, apesar de estar afastada e ter se apossado do amigo da outra, tinha um coração tão puro quanto o da primeira. A diferença entre as duas era que Mirella era cem vezes mais impulsiva, e duzentas vezes mais coração mole. O que mais tarde lhe custaria mais caro do que se poderia imaginar.

Sendo assim, mantiveram-se afastados uns dos outros, por meses que se arrastavam. E quando a angustia já consumia tanto a menina de quem falamos, ela se viu obrigada a tentar novamente, e se sentiu encorajada ao saber que Mirella e o rapaz já não eram tão amantes como foram no começo. Sendo assim, enviou uma carta desta vez destinada a Mirella, ao qual foi respondida com os mesmos sentimentos de tristeza, saudade e perdão. As duas voltaram a relacionar-se, mas Mirella evitava dizer ao rapaz que havia retomado a amizade com a tal menina, visto que o amor que eles sentiam um pelo outro definhava, e a amizade que ele e a outra outrora tão valorizada havia se extinguido, dando lugar ao desprezo e à mágoa. O que não tardou a acontecer entre os dois também.

Mais tarde, pelos rumores que ouvi, soube que a segunda moça, Mirella, havia sofrido bastante por causa do rapaz. O relacionamento dos dois havia se tornado obsessivo, e ela sentiu-se sufocada pelos sentimentos dele, sendo julgada pelos erros que havia cometido em seu nome, mesmo depois de ter suportado muitas tribulações por sua causa. Dentre tais tribulações havia muitas traições, inclusive com a ex esposa dele. O relacionamento foi terminado diversas vezes, por motivos até hoje desconhecidos, incompreensão e ciúme do problemático rapaz estão entre eles, mas nada há que comprove a teoria. Mirella foi encantada pelo mesmo rapaz que encantou a sua amiga, se entregou a ele como uma folha seca se entrega ao vento quando chega o outono, mas esse vento acabou por levar a folha mais longe e mais fundo que o próprio chão.

 A menina Mirella era tão linda, que causava inveja até nas moças mais virtuosas da região. Sua beleza era exótica, seu rosto parecia com o de um anjo, mesmo que sua personalidade não fosse nada angelical, e seu corpo era belo, nem muito cheio e nem muito vazio, como o de uma índia. Ela era impulsiva como já disse aqui, mas seus atos eram nada mais nada menos que impensados, ela vivia o momento como se suas atitudes não fossem gerar uma conseqüência posterior. Tão apaixonada era, e tão carente, que até o menor gesto de afeto fazia com que ela se sentisse bem, e assim se apegava muito a todos aqueles que dela parecessem gostar.  Ela na verdade nunca teve a intenção de roubar o amigo da outra, e muito menos de causar-lhes uma separação. Ela nunca teve mesmo foi a intenção de se magoar, o que aconteceu de uma forma drástica.
Como disse, o rapaz destruiu o coração dela como se estivesse amassando uma folha de papel qualquer, e jogando a no lixo como algo sem valor. A história dos dois é tão complexa, que só as idas e vindas já a torna difícil de entender. A única verdade que se sabe é que ela se enganou com caráter do rapaz tanto quanto a amiga. E a pessoa de quem elas tanto gostaram um dia se tornou um pesadelo na vida das duas. A menina, logo superou a decepção que o rapaz lhe causou, e logo passou por cima daquele desgosto. Mas Mirella, até hoje sofre, pois ainda o ama demais para deixá-lo sair de seu coração, mesmo depois de ter passado por tudo o que passou, e por ter lido todas as cartas que ele posteriormente lhe enviara, palavras tão ferrenhas que até quem se via por fora da situação se sentia insultado. Para Mirella aquelas palavras eram, e ainda são, facas com dois gumes, a cortar seu coração em pedaços cada vez menores, tão pequenos que às vezes ela pensa que nem tem mais um coração.

Talvez pense assim por ter plena consciência de que, mesmo depois de todo o mal que passou, seu coração pertence à mesma vil criatura, um rapaz que à primeira vista pareceu ser um cordeirinho indefeso e posteriormente se mostrou um lobo feroz, capaz de arrancar cada pedaço de seu corpo friamente, sem se sensibilizar com os sentimentos de sua vítima, outrora sua companheira e amante. Mirella até hoje sofre, e sua amiga, que um dia também fora amiga do rapaz, tenta consolá-la. Mirella na verdade só pode contar com ela pra consolo, pois nem uma outra pessoa conheceu tão bem o rapaz de quem se fala, ou pensou que conhecia. A amiga, por outro lado, foi também magoada pelo mesmo homem, de uma forma diferente, mas, nem por isso menos dolorosa. E a menina, tenta consolar Mirella, e explica a ela que só o tempo poderá curar as dores que essa paixão deixou, e que as cicatrizes serão eternas, mas nem por isso as feridas estarão abertas para todo o sempre.

Há de chegar o dia em que o rapaz se encontrará sozinho, sem amor e sem amizade, pelo simples fato de se achar auto-suficiente. Mas uma coisa é verdade, e é a única verdade que importa nessa história. Ninguém é feliz sozinho, e mais feliz é Mirella, que ainda tem um alguém que a apóie e incentive a esquecer o que se passou, do que o rapaz, que se ilude com novos amores e amigos, mas que um dia acabará por feri-los da mesma forma que feriu as duas anteriormente.

Decepções virão um dia a todos, e é preciso saber lidar com elas para que não se passe a vida inteira consumindo-se por algo que é passado. As cartas cessarão, o passado é passado, e o futuro é o que realmente importa agora, pois o presente, pelo menos para Mirella, ainda é uma tortura.

Vale salientar que a menina, o rapaz, e Mirella, são mais reais do que se possa imaginar.